Alimentação – Todos os ofídios são predadores e, salvo raras excepções, alimentam-se essencialmente de pequenos mamíferos e pequenas aves. Quando juvenis, as serpentes devem ser alimentadas uma vez por semana ou, no máximo, uma vez a cada cinco dias. Animais adultos ou semi-adultos devem ser alimentados uma vez a cada dez ou quinze dias.
O tamanho da presa varia consoante o tamanho da serpente. A presa deve ter, de largura, entre uma a uma vez e meia a largura máxima da cobra.
Entre as opções de presa estão ratazanas, ratos ou codornizes, sempre de tamanho adequado ao tamanho do nosso animal. Recomendamos sempre a alimentação com presas congeladas (previamente descongeladas e aquecidas), uma vez que as presas vivas podem atacar, ferir e, em certos casos, matar a serpente. É importante informarmo-nos, na loja ou no criador, se o animal está a alimentar-se bem e de presas congeladas, antes de o adquirir.
O alimento deve ser oferecido com recurso a uma pinça, visto que as serpentes são animais que, por norma, caçam por emboscada e capturam a presa que passar perto de si. Por outro lado, se a presa arrefecer, o animal perde o interesse, pelo que são raros os indivíduos que se alimentam de uma presa deixada simplesmente algures no terrário.
É importante deixar a serpente fazer a digestão da presa, antes de voltar a interagir com ele. Assim, recomendamos que se espere um mínimo de dois a três dias, entre a alimentação e qualquer tipo de interacção com o animal.
Alojamento – Por norma, as serpentes são animais que não necessitam de muito espaço ou, pelo menos, não quando comparadas com os lagartos ou as tartarugas. No caso quer das serpentes terrestres, quer das semi-arborícolas, o terrário deve ser orientado na horizontal, sendo que, no caso das segundas, é importante que tenha alguma altura. Em ambos os casos, o comprimento do terrário deve ser, no mínimo, igual ou pouco menor que o comprimento da serpente, quando esticada.
Como animais ectotérmicos que são, as serpentes necessitam de se mover entre zonas mais quentes e mais frias para regularem a sua temperatura corporal. Assim, é necessário criar um gradiente térmico, no terrário, com uma zona mais quente e uma zona mais fria, diametralmente opostas. As temperaturas óptimas, para a maioria das serpentes terrestres e semi-arborícolas disponíveis no mercado, seriam de 30ºC no lado quente e 25ºC no lado frio. Estas temperaturas podem ser alcançadas com recurso quer a tapetes térmicos, quer a lâmpadas de aquecimento mas é muito importante que estas últimas, caso sejam instaladas no interior do terrário, sejam protegidas com uma rede própria, no sentido de evitar que o animal se queime. É importante que as temperaturas sejam cuidadosamente vigiadas, pelo que se recomenda a instalação de, pelo menos, dois termómetros – um no lado frio e outro no lado quente.
Relativamente à radiação UV, as serpentes – como qualquer réptil – beneficiam dela. No entanto, visto que muitas das espécies mais comuns no hobby têm hábitos nocturnos ou crepusculares, que para além disso, têm um muito maior aporte de cálcio, na sua alimentação, que outras espécies e somando ainda o facto de estes animais habitarem regiões relativamente arborizadas, regra geral, não necessitam de lâmpadas tão potentes como algumas outras espécies, nomeadamente lagartos de regiões desérticas. Por norma, uma lâmpada de UV 5.0 é suficiente para a maioria das espécies.
De forma geral, as serpentes terrestres e semi-arborícolas mais comuns no hobby, são de regiões temperadas ou florestas relativamente secas. Assim, não são animais que requeiram grande controlo de humidade. No entanto, ao contrário do que muitas vezes se costuma pensar, as serpentes bebem, sendo por isso fundamental a instalação de uma taça de água, preferencialmente suficientemente grande para que o animal possa banhar-se. É igualmente importante que o terrário seja borrifado com água, uma vez por dia, durante o período da muda da pele, uma vez que a humidade ajuda a pele a soltar-se. É imperioso ter em conta que o excesso de humidade pode propiciar infecções bacterianas e fúngicas.
Cuidados de higiene – Visto serem animais que não se alimentam com grande frequência, por norma, as serpentes são também animais que não produzem muita sujidade. É importante, no entanto, remover as fezes do animal, sempre que este defecar – o que, por norma, acontece uma vez por semana – bem como as mudas de pele, sempre que as houver.
Recomenda-se igualmente a troca total de substrato, uma vez por mês e a limpeza da taça de água, todos os dias.
Enriquecimento ambiental – O enriquecimento ambiental é importante para que o animal se sinta mentalmente estimulado. As serpentes são animais tímidos e recatados, por natureza, mas gostam de explorar e investigam cautelosamente todos os objectos novos com os quais se deparam.
A decoração do terrário acaba sempre por ser muito uma questão de gosto pessoal, desde que as necessidades do animal estejam satisfeitas. Não podemos esquecer-nos que uma serpente semi-arborícola necessitará de alguns troncos, ao passo que uma serpente totalmente terrestre, os utiliza muito pouco. Por outro lado, as serpentes terrestres, como as boas da areia (Gongylophis spp) ou as serpentes de nariz de porco (Heterodon nasicus) gostam de escavar e passam boa parte do tempo enterradas, pelo que necessitam de uma boa camada de substrato solto, como fibra de côco, por exemplo.
Visto serem animais tímidos e, na maioria dos casos, de hábitos nocturnos, é fundamental oferecer, pelo menos, dois esconderijos – um no lado quente e outro no lado frio – para que o animal possa resguardar-se. As serpentes são animais muito adaptáveis e sentem-se mais seguras em espaços apertados, pelo que muitas vezes os esconderijos não necessitam de ser demasiado grandes.
No terrário de uma serpente, é mais segura a colocação de plantas, visto que estas não têm tendência a comê-las, como alguns lagartos e tartarugas.
Cuidados de saúde – Regra geral, as serpentes – e todos os répteis – são animais muito resistentes e suportam facilmente condições muito mais adversas que muitas outras classes de animais. No entanto, também adoecem. A questão é que, quer devido ao seu metabolismo lento, quer ao facto de serem “espécies-presa”, tendem a esconder os sinais de debilidade até já haver muito pouco a fazer. Assim, é importante apostar na prevenção, pelo que recomendamos consultas de check-up regulares, a cada seis meses ou um ano.
Sinais clínicos como regurgitação, formação de bolhinhas nas narinas, dificuldades na muda, passar muito tempo de boca aberta, reactividade acima do normal para a espécie ou para o indivíduo, letargia, malformações na boca ou na pele, não querer comer ou ferimentos, devem ser motivo de avaliação médica.